domingo, 12 de julho de 2015

Parte 2 - Punk Rock e Hard Core

Algum tempo após o início das atividades das primeiras bandas thrash e heavy de São Luís, surge a primeira leva de grupos com influência punk e hard core, e que também exerceram um papel primordial na realização e divulgação de eventos pela cidade, além do lançamento de algumas gravações, ou seja, demo-tapes.

A “tradição oral” diz que a banda Subúrbio foi a primeira expressão Punk do Maranhão, formada em 1985\1986, por Júlio (vocal), Ricardo “Estranho” (baixo), Gustavo (guitarra) e Carlitos “Porquinha” (batera). Segundo informações de Carlos “Pança”, todos eram participantes ativos do Movimento Punk, e faziam parte da “velha galera” que se reunia na Praça Deodoro.

"Carlos Pança" (Amnésia\Fome\Tornado) diz: “a primeira leva de bandas punk trazia: Subúrbio (a primeira banda punk do Maranhão), Fome, Estrago, Comportamento Estranho, Incúria e Nutrição Zero. Mas, ainda havia as de outros estilos, como Êxtase, Lúgubre, Crânio, Ruminando Cogumelos, De Rosca Blues Band, entre outras”.

Apesar de nunca terem chegado a tocar ao vivo, os integrantes da Subúrbio fizeram alguns ensaios. Um deles, segundo Pança, foi durante o ensaio da Lúgubre, no bairro Calhau:

Eles deram uma ‘canja memorável’. O som era um Hard Core - ou Grind Core? -, do tipo Brigada do Ódio, ou afins. Caos total. No show de estreia da Amnésia - junto com Ácido e Êxtase - em agosto/setembro de 1987, na Rua do Sol, o ‘pau fechou’ entre Punks, com essa galera aí da banda totalmente envolvida e Bangers, na primeira apresentação de uma banda que tocava Punk/HC no Maranhão. Acredito que a banda não tenha nenhum registro fotográfico”. 


Cartaz do show que aconteceu na sede do PT (Reprodução\Arquivo Pessoal\Vick - O Belo!)

O show na Rua do Sol (Centro) foi na sede do PT, promovido pelo João Otávio. Era Ácido e Amnésia. Foi a estreia da Amnésia em shows, acho que em agosto de 1988. Deu uma galera, mas deu treta também... Terminou que a gente só tocou uma música. Pudera, foi a primeira apresentação pública de uma banda do estilo Punk/HC no Maranhão. Apesar de a galera (punks e bangers) se reunirem direto na Praça Deodoro (Centro) para ouvir som e tomar cachaça juntos, rolou uma briga, no dia do show - ainda que isolada, mas rolou. Dois meses depois rolou outro show (no mesmo local) chamado "Hiroshima Nunca Mais". Se não me engano, tocaram também Lúgubre e Êxtase. Nesse, foi tudo tranquilo, embora o show tenha sido brutal. A Amnésia fez uma música com o mesmo nome do show, que ficou bem conhecida no circuito underground da época, que, aliás, concordando e complementando o que o Fernando Helon disse, era uma cena bem diferente de hoje: unida e com excelentes bandas, ao contrário do que uns "fraldinhas pretas" carreiristas ficam falando por aí”. (Carlos Pança)

Ainda sobre o ensaio da Subúrbio com a Lúgubre, Arthur Costa relembra:


Com relação à Subúrbio, quero registrar algo engraçado, quando do ensaio junto com a Lúgubre. O Júlio estava tão doidão que quando começou a cantar (esgoelar), o som da voz dele abafou todos os instrumentos. Fui regular o volume do microfone e observei que a caixa de som estava desligada. Kkkkkkkkkkk Era a voz natural dele! Berreiro total! Muito doido mesmo! Isso foi memorável!”.
 
Algum tempo depois, surge a Amnésia, banda de hard core, formada inicialmente por Flávio Queiroz (Vocal), Carlos “Pança” (Baixo e voz), Marquinhos (Guitarra e voz), Carlos Amaral (Carlão) – Bateria, que foi substituído por Paulo. Também passaram pela Amnésia: Edvard (Bateria), Celso Cadete (vocal), Playmobill (Vocal). 


Release da Amnésia, início da década de 1990 (Arquivo Pessoal\Jefferson Brando)

O guitarrista Alan Santos (Estrago) diz: “cara, como é engraçado. Em 1989 eu recebi a notícia que meu pai vinha morar em São Luís. Aí, comecei a procurar endereço de alguém daqui que gostasse de Metal. Eu li um fanzine que tinha um endereço de um cara que se chamava Vick - O Belo! Na época, a gente tinha muitos contatos com uma galera do Brasil inteiro, através de carta, e recebia os zines. Um mês antes da minha peregrinação por São Luís, recebi a noticia de uma banda. Foi a primeira que escutei, daqui da Ilha. Foi no Bar Celeste. Tocaram com várias bandas punk do Brasil. Fiz amizade com os caras, que dura até hoje. O show foi du caraio!” (Era a Amnésia)

Edvard (bt), Marfilho (g), Playmobil (v), Marquinhos (g) e Pança (bx). No detalhe, a capa da demo "Cérebro Perdido", que tem Celso Cadete como vocalista (Arquivo Pessoal\Adalberto 'Playmobil' Júnior)

Já a Fome, também na linha punk\hard core, apareceu em 1989, formada por Amauri Jorge, mais conhecido como Billy Podrão (vocal), o próprio Carlos “Pança” (baixo), Maurício “Alicate” (guitarra) e Ailton Lemos, o “Rato Velho” (bateria). Gravou algumas demos no início dos anos 1990 e retornou aos palcos em 2014.


Release da Fome, no início dos anos 1990 (Arquivo Pessoal\Jeferson Brando)


Layout da demo-tape Invólucros Humanos (Arquivo Pessoal\Jeferson Brando)


Integrantes das bandas Fome e Amnésia, em frente à casa de Carlos "Pança", no Cohatrac, onde os ensaios aconteciam (Arquivo Pessoal\Carlos "Pança")

A Estrago chegou com um hard-core\punk bem original em 1990, formada por Joacy Jamys (berrador), Jean e depois Alan (Guitar), Assis Garcez (baixola) e Antigo (bateria). Também chegou a contar com Sérgio “Besteira” (bateria) e Carlos 'Carlito' de Paula (vocal). Gravou algumas demo-tapes e se consolidou como uma das mais ativistas quando de falava em ideologia punk. As experiências com gravações foram solidificadas através da Estrago Tapes Recs, que também produzia e distribuía materiais das bandas punk-HC locais. 



(Arquivo Pessoal\Jeferson Brando)


(Arquivo Pessoal\Jeferson Brando)


(Arquivo Pessoal\Jeferson Brando)


Layout da demo-tape Podre Realidade (Arquivo Pessoal\Jeferson Brando)



Destaque para o talento do vocalista, Joacy Jamys, desenhista de renome no underground nacional, que produziu capas de, praticamente, todas as demos dos grupos citados, e que ainda produziu, entre outros, o fanzine Sociedade dos Mutilados, reconhecido nacionalmente pela qualidade editorial, artística e engajamento no dito Movimento Punk. 



Algumas edições do fanzine Sociedade dos Mutilados (Arquivo Pessoal: Leonardo Cunha)

(... em construção) 


ATENÇÃO! Correções e\ou mais informações, colaborações, imagens, fotos, podem ser enviadas pelo e-mail: adalbertopcjunior@gmail.com.

8 comentários:

  1. Fui em um desses shows no PR da Rua do Sol. Foi muito bom.
    E meu saudoso amigo Joacy Jamys era um gênio dos quadrinhos nacional. Editávamos fanzines na década de 80.

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    1. você pode dar mais informações sobre esses zines?

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    2. Tempos bons, valeu pela pesquisa. Blog está na minha lista dos melhores.

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    3. Jamys era simplesmente grande gênio do punk, um amigo que perdemos muito cedo

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  2. Bela iniciativa Play. É bom pra rapaziada mais jovem entender como tudo começou por aqui. Época em que até arrumar um local para realizar shows era uma tarefa árdua. A aparelhagem era capenga e os vinis eram tão raros que era um privilégio de poucos. Até mesmo uma K7 era difícil de gravar, pois os bangers mais xiitas não gostavam de compartilhar seu acervo "erguido com tanto suor" e viagens a São Paulo ou Rio. Lembro que meu irmão conseguiu comprar o primeiro Black Sabbath numa lojinha lá na Praça João Lisboa. Só tinha aquele exemplar na loja.

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