segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Parte 3 - Os primeiros festivais escolares e shows



Ácido, no Festival da Escola Técnica (Faet\1984), quando ganharam como Revelação (Arquivo pessoal\Carlos de Paula\Carlito)

As primeiras apresentações de bandas de rock em São Luís estavam ligadas aos festivais de música, uma espécie de tradição musical no país. Por aqui, o Festival de Música da Escola Técnica (Faet), do Marista, Dom Bosco e do Sírio tiveram grande repercussão.

Carlos de Paula (Carlito) explica:

Foi na antiga Escola Técnica. E um festivalzinho que fizemos no Colégio Sírio Libanês, do lado onde era o Meng. Hoje, lá onde funcionava essa escola, acho que seja uma pequena faculdade. Tocamos juntos com o Amnésia. Flávio ainda era vocal e Marcos Magah, nas guitarras”.

De memória invejável, Carlito lembra até dos presentes, entre eles, vários músicos do cenário que estava em gestação:

(Festival do Colégio Sírio Libanês) “Quem estava presente lá, que eu me lembro, eram: Marcelo e Gesner, o finado Quito e César Macaco, Léo Kiss, Karina e o seu irmão Damian, Clarissa, Ópera, Mauro, Biné, Maninho, Jucydkson, Jonas da Alemanha, os irmãos Jonas, Jacó, Júlio, Ricardo Estranho, Dejo, Fábio Mantas, o saudoso Ronaldo, irmão de Júlio e Robson, Zé de Guta, Celso da Alemanha, Maguinho também da Alemanha, e a primeira aparição de Idemburgo e Eremburg. Dentre outros. Eu acho tbm que estavam Rômulo e Raelson. Cleudão, Marcone ex-Anônimo, na época Lúgubre, Marcos tambémdo lúgubre, Cláudia Kaqui, as irmãs Bahiana, Joana e por aí vai”.

Inácio (Os Carabinas) também recorda:

“Em 88 teve um show no Dom Bosco, com as bandas Nirvana (Rogério Ozzy), Utopia (do filho de Zé Raimundo) e Contracultura (Carlos Jasser). Nessa época tinha uma banda chamada Coligação Represália, com Jorge Ribeiro que depois tocou na Whydia”

A premissa deste blog, em relação aos primeiros eventos, também é tentar estabelecer uma cronologia dessas produções, que obviamente, começaram de forma bastante amadora, porém, mantendo a vontade de fazer, seguindo as diretrizes do “do it your self”, bem típica do underground.

Nesse sentido, a maioria cita como grande marco dos primeiros anos do - à época - chamado “movimento”, o São Luís Rock Show. Todavia, um evento anterior chamou bastante atenção, sobretudo pelo inusitado. O I Bestial Festival aconteceu, pasmem, no imponente Teatro Arthur Azevedo, uma das casas culturais mais antigas do país, e mais relevante do Maranhão.

De acordo com os relatos a seguir, a direção do local, naqueles anos, era de responsabilidade de uma figura relevante para a cultura popular. Trata-se de Nelson Brito, personalidade ligada a outra iniciativa de grande importância para a cultura maranhense, o Laborarte. Já falecido, Nelson Brito, foi homenageado, dando nome a um espaço cultural do município de São Luís: o Circo da Cidade, rebatizado como Circo Nelson Brito, local que também foi palco de diversos shows de rock\metal nacionais e internacionais, já nos anos 2000.

Voltando ao I Bestial Festival, que contou com apresentações das bandas Nirvana, Êxtase, Lúgubre e Ácido, nesta sequência, Carlos de Paula (Carlito) comenta:

“Na realidade, quem correu muito atrás desse festival, fui eu, o Dio (Rone Maranhão), porque era o organizador e Fernando ‘By Blood’ (Ácido). Essa rapaziada ficou achando até que não ia dar certo, mas, passamos madrugadas acordados para o evento acontecer. Vieram forças de todos os lugares. Mas eu e Dio, corremos muito atrás de patrocínios, principalmente nas agências de turismo”

Carlito complementa:

“No primeiro dia, a mesa queimou. Lotou o teatro. Mas foi no segundo dia que o festival pôde ser realizado. Na época, quem era o diretor, era Nelson Brito, que permitiu fazermos o Festival no outro dia, com menos pessoas, mas foi um marco. Um cara que também deu um gás foi Gilberto Mineiro, no Bestial Festival, e anos mais tarde”

Mesmo o I Bestial Festival sendo considerado um divisor de águas e inédito, há informações que tratam de iniciativas roqueiras no Teatro Arthur Azevedo anteriores a esse momento. João Pedro (Ânsia de Vômito) esclarece:

“Teve show no Arthur Azevedo, em setembro de 1985, com as bandas Kão e Morcego Vermelho. Kão tocando versões do Scorpions e AC\DC, e Morcego Vermelho, um pop rock”.

Show sede do PT

Os shows na sede do PT, no Centro, também ajudaram a edificar o underground do final dos anos 80.

Carlos de Paula (Carlito) esclarece:

“Um desses shows, na sede do PT, eu era da banda Anônimo, e fizemos uma apresentação por lá. Promovido por João Otávio, Márcio Jerry e Marcelo Rezende. João Otávio era presidente do PT-São Luís nessa época.

Carlos Pança (Amnésia) também relembra:

Amnésia foi estrear em shows, e tocou depois do Ácido. Na segunda música o show acabou: porrada bruta entre punks e banguers. Fizeram outro, uns dois meses depois. O nome do show era “Hiroshima Nunca Mais”. Conseguimos tocar, embora, a porrada tenha rolado em menor intensidade”. 

Show que aconteceu na sede do PT (ReproduçãoArquivo PessoalVick - O Belo!)


O São Luís Rock Show foi o primeiro festival que conseguiu periodicidade na capital maranhense. O evento acontecia anualmente, ao lado do Coqueiro Bar, na pontinha da Ponta D’Areia. O evento aconteceu por três anos seguidos, de 1990 a 1992, organizado pelo produtor Jorge de Capadócia.  

Componentes de algumas bandas, no palco, em sessão de fotos para divulgação do São Luís Rock Show (Arquivo pessoal\Maurício Capela)

O também produtor Maurício Capela, componente da equipe de organização do festival, comenta:

“Era uma época muito difícil de patrocínio, e ainda assim, conseguimos realizar três edições. Na última, nem cachê conseguimos. E depois, ninguém mais quis patrocinar o evento, e não pudemos realizar a quarta edição. Mas, acho que esse evento foi muito importante para a história do rock em São Luís. Mesmo que a produção tenha deixado algumas pendências, muitas bandas começaram ali, e outras se consagraram com suas apresentações. Eram quatro finais de semana por edição. Um mês de rock todo sábado e domingo. E era um evento aberto. Não havia portaria. E o rock era muito discriminado naquela época. Em uma reunião na Alumar, pra captação de patrocínio para a quarta edição, o cara me disse na lata que não iria mais envolver o nome da empresa naquele evento de malucos cabeludos. Foi em 90, 91 e 92, sempre no mês de agosto, sendo que a de 92 tivemos o último dia em setembro”.

Público presente em uma das edições do São Luís Rock Show (Arquivo pessoal\Maurício Capela)


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