As primeiras expressões do death metal, no Maranhão, são do primeiro ano da década de 1990, quando a vertente já estava totalmente consolidada pelos Estados Unidos e Europa, influenciando definitivamente o underground mundial.
Por aqui, em São Luís, a banda pioneira desse subgênero do metal a se apresentar foi a Raiser Death, que logo no início era Over Death. Adriano Ribeiro explica:
“A Raiser
Death foi criada no início de 90, e ostenta essa "fama" de
primeira banda de Death Metal do
Maranhão. A formação original era: Jefferson (vocal), Maurício ‘Alicate’ (guitarra), Adriano
‘Podre’ (baixo) e Anuar Sadat
(batera), inicialmente com o nome Over
Death, que depois mudou para Raiser
Death. Depois, Wellington ‘Revoltado’
entrou, e saíram Jefferson e Maurício. Eu assumi os vocais, e
passamos a ser um power trio”.
Adriano
também fala da dificuldade que enfrentaram à época em relação a estrutura
de ensaio.
“Importante
lembrar também que, no início, ensaiávamos na casa de minha mãe, no Maranhão
Novo, onde ensaiava também o pessoal da Revertério
(irmãos Burg e Erick). Depois, passamos a ensaiar no estúdio da Banda Peso. No início, nenhum dos integrantes tinha
instrumentos. O estúdio da Banda Peso
ficava na Rua das Cajazeiras, Centro. O Gilberto,
dono da banda, foi importantíssimo, por nos ceder o espaço e os instrumentos. O
som tinha influências claras de álbuns como INRI (Sarcófago), Morbid
Visions (Sepultura), Altars of
Madness (Morbid Angel) e Sexual
Carnage (Sextrash), que eram também, até então, algumas das principais influências
dos seus integrantes”.
Sobre
os ensaios no Maranhão Novo, Jefferson lembra:
“Os
ensaios eram na
casa do Adriano, no Maranhão Novo,
sem microfone. Vocal gritado!”
Ainda de acordo com Adriano,
a música "Outrage" é a
primeira executada por uma banda maranhense com a bateria em blast
beat. A banda apresentou-se na edição do São Luís Rock Festival no ano de 91, executando, ao todo, quatro músicas autorais e o cover "Nightmare", da banda mineira Sarcófago.
Apresentou-se ainda na festa de aniversário do Grupo Difusora, na praia da Ponta d'Areia (com visual corpse paint, ao meio-dia), e em um
evento no CSU da Cohab. No começo de 92, e sem qualquer registro fonográfico
gravado, a banda encerrou as atividades, porém, imprimindo forte presença no
imaginário underground ludovicense.
Cartaz do "Sociedade dos Mutilados Festival", com várias bandas locais, entre elas Raiser Death e Ânsia de Vômito (Arte: Joacy Jamys) |
Um
detalhe importante de ressaltar em relação ao death metal, ao grindcore e especialmente ao black metal é que foram subgêneros bastante discriminados por
outras vertentes (pelo menos as mais tradicionais) do Metal. Com postura mais agressiva musical e comportamental, os
adeptos geralmente eram vistos com certa desconfiança, por conta do
radicalismo, confusões em shows e ainda pelo conteúdo lírico anticristão da
maioria das bandas. São fatos curiosos e histórias até engraçadas. Mesmo assim,
essas bandas locais e entusiastas do estilo marcaram forte presença no cenário.
“Por
volta de 1989, 1990, eu e Anuar estudávamos no Marista, um colégio cristão.
Mesmo assim, com muita conversa, conseguimos rolar, na rádio da escola, cerca
de 20 minutos de um tape do Altars of
Madness, Morbid Angel, que havíamos pedido por encomenda. Foram 20 minutos
de pura blasfêmia”, diz Adriano, ex-Raiser
Death, atualmente baixo e voz no Unblooded.
Também
faziam parte dessa “tribo” death metal
Fabiano ‘Nombrega’, Paulo Júnior, Afrânio, Grilo, Jônio ‘Come Bala’, entre
muitos outros.
Bom
lembrar que após a saída da Raiser Death,
Jefferson e Maurício ‘Alicate’ (Fome) deram início à Putrid Christ, com um
posicionamento mais radical, de identificação ideológica no black metal, e sonora no grind/noise.
Jefferson explica:
“Eu e Maurício
saímos (da Raiser Death) e montamos a horda (Putrid Christ) que era black metal. Depois entraram Grilo e Marcelo ‘Dunebune’.
Release da banda Putrid Christ |
Reprodução capa do Sanctum Zine Nº 1 (RJ) - 199... - Putrid Christ na capa |
A Putrid Christ é considerada
a primeira banda com ideologia black
metal do Maranhão - embora fazendo
um grind\noise -, e ainda chegou a gravar uma demo-ensaio. Jefferson também
fala sobre o radicalismo:
“Gravamos uma demo, lá na casa de Carlos ‘Pança’ (Amnésia), no Cohatrac. Era Grilo, Marcelo e Maurício. Foda essa época, que surgiu o radicalismo...
adolescente sem nada na cabeça... Aí, todo mundo seguiu o seu rumo... Nós
tínhamos muitos contatos no Rio de Janeiro. Um deles era o Dorsal. Mandamos essa demo até para a Polônia... Essa demo nem era black metal. Era um black grind noise metal... Essa demo
rolou muito na (Praça) Deodoro... Os
encontros já eram na parte de baixo, em frente à biblioteca. Nessa época, a
febre era grind noise... Black Metal veio explodir depois dos
posers da ‘Noruégua’.”
Release Putrid Christ (Arquivo Pessoal-Slanderer) |
Jefferson, ex-vocalista da Raiser Death e fundador da Putrid Christ e Nigrum (Arquivo Pessoal-Jefferson) |
Pouco tempo depois, ainda segundo Jefferson, surge a Nigrum, “uma das primeiras Hordas de black metal do Maranhão”. A banda também chegou a gravar.
Quase concomitantemente, uma banda da cidade de Imperatriz, a 625 da capital maranhense, também iniciou trabalhos, inclusive,
registrando uma demo-tape. Trata-se da Pandemonium,
que nasceu de uma banda anterior chamada Vômito
de Padre, segundo consta em releases divulgados pelo grupo da região
tocantina.
Release da Pandemonium - Imperatriz\MA (Arquivo Pessoal-Slanderer) |
Release da Pandemonium - Imperatriz\MA (Arquivo Pessoal-Slanderer) |
Reprodução\fanzine Deusdemoteme.. ? (Arquivo Pessoal: Slanderer) |
Outra banda da capital maranhense que também seguiu a linha death\black\noise foi a Sânzia, power trio formado por Jason
(v), Érico (g) e Jônio ‘Come Bala’ (bt). O grupo fazia um som bem agressivo, e
além de músicas próprias, faziam um cover de “Devastation and Massacre”, da banda paulista de grindcore No Sense. A Sânsia tocou em um dos shows,
na calçada da casa de Carlos ‘Pança’ (Amnésia), no bairro Cohatrac, de corpse paint.
Grindcore
Com esse cenário mais definido, no início dos anos 90, mais
especificamente em 1991, surge a Ânsia de Vômito, inicialmente
executando um grindcore com fortes
influências do Napalm Death e bandas
punk/HC/grind/noise
nacionais.
A primeira formação contou com os irmãos Jonas (g) e Jacob (v), e
ainda: Sérgio ‘Besteira’ (bt) e João Pedro (bx). A segunda formação
contou com Jacob (v), João Pedro (agora como guitarrista), Anuar Sadat (bt, ex-Raiser Death), Natanael Jr (g, ex-Coma Alcoólico) e Burg
(bx, ex-Revertério). Com esse line
up, a banda adicionou ingredientes mais death metal à sonoridade, começando
também a ocupar espaço no underground nacional.
Burg, João Pedro, Natanael Jr, Jacó e Anuar \ Arquivo Pessoal-João Pedro |
Natanael Jr, Anuar, Jacó (de costas), Burg e João Pedro (de costas) \ Arquivo Pessoal-João Pedro |
João Pedro (ao fundo), Burg e Natanael Jr (ao vivo\Arquivo Pessoal-João Pedro) |
Com essa formação, após vários shows em São Luís e um em Teresina (PI),
por volta de 1996 (primeira incursão fora do Maranhão), o grupo começa a se
consolidar e demonstrar maturidade para um registro. Mas, foi somente em 1998
que a banda lançou a primeira demo-tape oficial, já com outra formação: Mondego
(v), João Pedro (g), Natanael Júnior (g), Playmobil (ex-Amnésia\bx) e Rafael
Lobato (bt).
João, Mondego, Rafael, Playmobil e Natanael Jr (1998) Foto: Clarissa Lobato |
Resenha "Angelique" (dt-1998) na Rock Brigade (Reprodução) |
“Angelique” conta com cinco faixas autorais (Brutal Survival,
The Garden Of Flesh, Angelique, Pandemônio e Unreal World), e recebeu
comentários positivos em vários zines e revistas nacionais. A banda levou esse
material e tocou em alguns estados, como Piauí, Pará, São Paulo e Paraná.
Ânsia de Vômito - backstage, Belém (PA) 2000 |
Ainda na primeira metade dos anos 90, surgem outras expressões
contundentes na seara death/grind/black,
como a Hecatombe, que contava com
Charlie Brown (v), Nyelson Webber (bx), Arlam (g) e Wesley (bt). A banda
transitava entre o death metal e o death/black.
Com essa formação lançaram uma demo-tape, à época, com qualidade notável
para o estilo, em meados dos anos 90. Após algumas aparições marcantes em shows
pela cidade, encerraram as atividades, dando origem a duas outras bandas, que
também marcaram espaço no underground local. Nyelson Webber (bx/v) e Wesley (bt)
adicionaram outro guitarrista, Nynrod Webber, fundando o Tanatron.
Tanatron, com Burg (g), Nynrod (g) e Nyelson (v\bx) |
Já Charlie Brown (v), alguns anos depois, iniciou os trabalhos da Nanroth Black Torn, já com uma
sonoridade mais legitimamente black metal. A banda lançou pelo
menos dois demo-CDs.
A pesquisa continua...
Leia:
Introdução - A tarefa é árdua, hercúlea, mas pode resultar em uma boa diversão!
Parte 1 - Histórico dos Anos 80
Parte 2 - Punk Rock e Hard Core
Parte 3 - Os primeiros festivais escolares e shows
Parte 4 - O death metal, o grindcore e as blasfêmias primordiais no Maranhão
Parte 5 - Lembranças do pop-rock de São Luís do final dos anos 80 ao começo dos anos 2000
Leia:
Introdução - A tarefa é árdua, hercúlea, mas pode resultar em uma boa diversão!
Parte 1 - Histórico dos Anos 80
Parte 2 - Punk Rock e Hard Core
Parte 3 - Os primeiros festivais escolares e shows
Parte 4 - O death metal, o grindcore e as blasfêmias primordiais no Maranhão
Parte 5 - Lembranças do pop-rock de São Luís do final dos anos 80 ao começo dos anos 2000
O zine que tem o Pandemonium não é o Deusdemoteme. Vou procurar aqui depois pra informar melhor.
ResponderExcluirna hora!
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMassapracarái
ResponderExcluirna hora Madian... mande depoimentos também!!
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