segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Documento Rock Maranhão inicia podcast na Universidade FM

O blog iniciou uma série de podcasts na Universidade FM, com veiculação quinzenal, aos domingos, e postagens no perfil da rádio nas plataformas de áudio Spotify, Deezer e Google Podcasts, além do site da emissora.

As gravações das entrevistas foram iniciadas no fim de 2019, antes da pandemia de Covid-19, adiando o lançamento da iniciativa. 

A primeira postagem, uma espécie de reunião de pauta sobre o que vai ser abordado na série, foi dividida em duas partes, que você pode conferir nos link a seguir:

Parte 1

http://www.universidadefm.ufma.br/jornalismo106/geral-jornalismo106/documento-rock-maranhao-a-primeira-parte-da-edicao-no-0-e-uma-reuniao-de-pauta/

Parte 2

http://www.universidadefm.ufma.br/jornalismo106/geral-jornalismo106/documento-rock-maranhao-confira-a-segunda-parte-da-edicao-no-0/      

O programa é apresentado pelos jornalistas Adalberto Júnior,. Paulo Pellegrini e Gilberto Mineiro, com edição do radialista Marcos Belfort.

Aguarde os próximos programas!


sábado, 11 de fevereiro de 2017

Parte 6 - Lembranças do pop-rock de São Luís do final de 2000 aos dias atuais



Por Paulo Pellegrini – jornalista e músico

A década de 2000 começa sob o impacto da popularidade da Catarina Mina, que arrastava grande público por onde passava, em especial nas apresentações no segundo piso do Monumental Shopping (Renascença).

O EP “As aspas serão explicadas adiante” tinha três faixas autorais e uma releitura de “Heaven knows I’m miserable now”, dos Smiths, e até hoje é cultuado pela crítica como um dos discos mais influentes do pop-rock maranhense.

Djalma Lúcio (ex-Catarina Mina) - lançamento do EP “Conforme prometi no réveillon” - O Estado MA

Há um hiato de oito anos entre esse lançamento e “Conforme prometi no Reveillon” (2010), primeira aparição fonográfica solo de Djalma Lúcio, o líder da Catarina Mina que passou mais tempo recluso e dedicado a outras atividades do que seus fãs gostariam.

Em 2000, uma banda de vida efêmera registrou duas faixas autorais que tiveram relativo sucesso nas rádios, a banda Frechal, cujo vocalista era Kosta Netto.

Uma banda importante, egressa dos anos 90, que também estrearia em disco na década seguinte foi a Cruz de Metal. O grupo era capitaneado por Léo Ribeiro, que depois assinaria como Léo Mart Brodello, e Nena Natal. Com agenda sempre lotada de apresentações em bares, a banda gravou no Estúdio Metanóia, no Edifício Caiçara, dois discos: “Humanidade” (2002) e “Cruz de Metal” (2004), com destaque para a canção “Hipnose”.


Cruz de Metal, com Márcio Glam (g)


Seguindo uma vertente mais próxima da MPB, registram-se aqui os três lançamentos da Mandorová (2002, 2003 e 2007) e o trabalho “Pirata”, do trio Hamilton Oliveira, Ana Areias e Assis Medeiros (2004).

A primeira metade da década de 2000 viveu também um boom de lançamentos na área do hip-hop. Dois grupos se destacaram: o Clãnordestino (Preto Nando, Lamartine, DJ Juarez e Preto Ghoez, este infelizmente já falecido) e a T.A. Calibre 1 (Costelo, Playmobil, Ramúsyo, Cristian, entre outros). Nos anos seguintes, surgiram diversos grupos, como Arquivo X, Arsenal MC’s, Gíria Vermelha e Plano Somma, só para citar alguns.

Navalhas Negras\Clãnordestino - DJ Juarez, Nando, Liliam, Lamartine

A popularização do Nu Metal, do Rap Metal e de bandas como Rage Against The Machine, System Of A Down, CPM-22, Detonautas e NX Zero gerou efeitos na formatação das bandas maranhenses de pop-rock entre 2003 e 2006. Em linhas gerais, o gênero ficou mais “pesado”, com guitarras distorcidas “na cara”, interpretações mais “gritadas” e “faladas com velocidade”, muita atitude no palco e o início do apreço do estilo em se compor em inglês.

Nesse contexto, surgiram bandas como C.H.A.O.S, Madame Caos, Effect, Amplit, Endo-Z (esta numa pegada mais Alice In Chains) e a Página 57, talvez a mais marcante desse período. A Página 57 foi um ícone do cenário local, com a espalhafatosa cabeleira de Ramirez Costa e seus sarongues e a pegada firme de Benone (baixo), Thiago “Cara de Bebê” (guitarra, que mais tarde formaria a Boys Bad News, usando seu nome de batismo Domingos Tiago) e Giorlan Moraes (bateria).

Página 57 (Giorlan, Ramirez, Benone e Thiago)

Vivíamos a novidade das redes sociais, em especial o Orkut e o Flogão, cujo perfil “Portal Underground” era sempre motivo de polêmicas, com postagens anônimas em que não havia limites para ofensas e ironias

Portal Underground: divulgação, anonimato e muita polêmica 

Não teve banda na época que não sofreu com as “navalhadas” dos comentários sobre os posts do Portal, mas que também não aproveitou para destilar seus próprios venenos...

A proliferação de bandas motivou o surgimento de espaços importantes para shows. Naqueles meados de 2005, cita-se aqui o Castelo do Rock, uma das inúmeras iniciativas do graduado em Comunicação Social Natanael Júnior em fomentar o rock local, que ficava na Praia Grande e abrigou dezenas de shows. 

Castelo do Rock, que funcionou por quase 10 anos, na Praia Grande

O mesmo Natanael, cuja história no rock inclui a prática como guitarrista da Ânsia de Vômito em tempos anteriores, abriu o PUB, primeiro próximo ao posto Texaco da Beira-Mar, depois no Centro Histórico.

Natanael Júnior é uma figura controversa do rock local, protagonista de algumas experiências conturbadas na área de produção (os shows do Sepultura e do Nação Zumbi que não aconteceram, sem contar o malfadado Metal Open Air), mas sem dúvida é um dos maiores promotores do cenário, sempre disposto a criar oportunidades para que o rock aconteça e as bandas locais floresçam. E cabe citar que o histórico show dos Scorpions no Aterro do Bacanga, em setembro de 2010, teve sua assinatura na produção.

Outro local extremamente marcante, que foi aberto em 2005 e serviu de plataforma para o lançamento de diversas bandas, foi o Chez-Moi, primeiro na parte alta da Rua do Giz, depois na parte de baixo. O bar dirigido por Samuel Chanez, o Samuca, e sua mãe Áurea, foi o lugar em que surgiram diversas bandas, entre as quais a Mr. Simple e a Cartahoc. Contemporânea a essas, está também a The Mads.

Página 57, Mr. Simple, Cartahoc e The Mads tiveram como diferencial terem produzido seus próprios CDs, com faixas que tocaram e ainda tocam muito nas rádios, como “Jaburu”, “Fim da noite”, “Já era” e “Ainda bem você”. 

Mr. Simple (Otávio, Paulo e Vanessa)

A Mr. Simple, cujos líderes Paulo Pellegrini e Otávio Parga eram egressos da Daphne, ainda chamava a atenção pela presença de uma mulher na bateria, Vanessa Espindola, que havia sido recrutada da Lothus (outra banda importante da primeira metade dos anos 2000, com Eduardo Papada nos vocais).

The Mads

Já a The Mads era uma dissidência da ZH, que tinha Armando Eugênio, o Pandha, como vocalista. Seu nome era a junção das iniciais dos integrantes originais: Michael Mesquita, Armando, Davi e Samir Aranha, mas logo a banda recrutou novos integrantes (Marco Moraes e Octávio Ferro), e foi com essa formação final que lançou seu primeiro e único CD, em 2006.

Várias bandas podem ser lembradas nessa fase do pop-rock maranhense: Sunset Strip, Fita K7 (do guitarrista Edson Travassos), Sública (com Karina Maia, Felipe Hyily, Lucas Sobrinho e Cid Campelo, banda que depois mudaria de nome para LaDama), Venyce (da vocalista Vanessa Guimarães) e Samurai Kitty, que era formada somente por mulheres.

Uma banda que soava diferente e começava a se destacar era a Groove. Tinha como carro-chefe as canções do professor de idiomas Nivandro Costa Vale, mas também agradava por trazer para os bares um som atualizado para a época, de bandas como Arctic Monkeys e Franz Ferdinand. A banda logo mudou de nome para Radioteca e inovou ao não apostar no formato de CD, como suas contemporâneas faziam, e sim lançar como single uma música de cada vez.

Radioteca - Oliveira Neto (bt), Miguel Ahid (bx), Nivandro Vale (v) e Fernandinho (g)


Entre 2007 e 2008, cabe registrar os discos da Fazenda Catanha, de João Bluesdart, filho do guitarrista Chiquinho França; da Audistock; da Xnoz; e o DVD da Nimbus Paradisia, “Detached but aware”. A Nimbus tinha formação muito parecida com a da extinta General Purpose, com Eryn Cy (Cynthia Esteves) no lugar de Clayton nos vocais.

A Audistock tinha um trabalho consistente, executado por músicos profissionais, sob o comando de Audi Mesquita, cujo maior sucesso radiofônico foi a faixa “Diana”. Ela e o irmão Michael começaram ainda nos anos 90 tocando MPB em bares e em uma década passaram a ser personagens relevantes da música do Maranhão, participando de bandas e se lançando em projetos solo. Ao deixar a The Mads, banda da qual foi um dos fundadores, Michael lançou diversos trabalhos solo sob os nomes de Michaelboyzband e Michael e Os Invisíveis. Em uma dessas ocasiões, chegou a se apresentar na Rede TV, em São Paulo, no Festival Gasound.

Mais bandas que podemos citar, criadas e atuantes entre 2007 e 2010: Fidop, DK8 e Utrason.

Novos espaços, nova cena, novas fronteiras – Paralelamente ao movimento roqueiro, e muitas vezes se misturando a ele, destacava-se a Nego Ka’apor, de influência mangue beat e hip hop, cujo líder Beto Ehongue vinha de experiências em bandas marcantes de períodos passados, como Som do Mangue e Cabelo de Alma. A partir de 2004, além da Nego Ka’apor, Beto levou adiante projetos como Canelas Preta e Hip Hop Cangaceiro, e produziu trilhas e loops para outros projetos, como a Loopcínico.

Nego Ka'apor

Outra figura de destaque entre os artistas que fundem rock com estilos regionais é Madian Filho, que alcançou notoriedade com sua Madian e o Escarcéu, inclusive se apresentando no Grito Rock de Quito, Equador.

Madian e o Escarcéu (Miguel, Madian e Érico Monk)

Por aqui, a Praia Grande continuou sendo o principal reduto de shows, tanto para o público com menor poder aquisitivo (Bar do Porto, Ligeiro. Com, Teatro dos Bonecos), quanto para os mais endinheirados (Espaço Armazém). 

Evento produzido por Burg Gouveia (Cremador): investimento e diversidade musical em um só evento

Mas em 2008, uma iniciativa de Burg Mussury, guitarrista da Cremador e empresário do ramo de discos e soulvenirs de rock, ativou a Concha Acústica da Lagoa da Jansen para uma sequência de quatro festivais. As edições do Lagoa Metal Festival aconteceram em junho, julho, setembro e novembro de 2008, com a particularidade de reunir bandas de vários estilos, das mais leves às mais pesadas. Entre as atrações, diversas das bandas já citadas e outras como Fire, Innegore, Hatedaska e Caveiras Buchudas.

Foi uma fase bem movimentada da cena roqueira maranhense. Vale ressaltar que tínhamos o Circo da Cidade em pleno funcionamento, e as bandas de rock eram seu principal locatário.

Também nesse período, Nyelson Weber (da Tanatron), e Marcony Almeida (do Pharmarock, ao lado do Ceuma - Renascença), promoveram diversos shows, e Jorge Mondego, o Bavu, começou a despontar como produtor, preenchendo uma lacuna importante de que o rock maranhense ressentia, a da ausência de produtores de eventos.

Da mesma forma, outro produtor que precisa ser citado é Bruno Coelho, conhecido como Ted, mais um professor de idiomas no rock, destacado pelos inúmeros eventos que produziu, especialmente as edições do Rock Ballads, no Teatro João do Vale (Praia Grande).

Ted esteve à frente, junto com diversos integrantes de bandas, de um movimento ousado, o Balaiada, cujo objetivo era incluir o rock local no calendário oficial de eventos da cidade. Muitas reuniões aconteceram mas, infelizmente, a ideia não vingou.

Coube à The Mads, já com Gustavo Bruno nos vocais, a iniciativa de realizar tributos de bandas nacionais e internacionais, primeiramente no Espaço Armazém. Depois a ideia foi largamente adotada, a ponto de a casa de shows Amsterdam Music Pub, na Lagoa da Jansen, reservar as sextas e os sábados durante vários anos (a partir de 2013) apenas para Especiais, criando um mercado específico para esse segmento.

Liverpaul (cover de Beatles), Dizneylândia Dândi e diversas bandas dirigidas pelo guitarrista Márcio Glam eram presença garantida na casa, além de outras que eram montadas conforme os tributos iam sendo pensados. Outra casa da Lagoa da Jansen que, por um certo tempo, recebeu diversos shows, mas não de tributos, foi a Public House. E, claro, o lendário Veneto, no começo da avenida, que aos poucos foi deixando de ter bandas para ser uma casa de discotecagem de rock sempre lotada em seus arredores.

À medida em que o rock brasileiro foi se “emepebezando”, com a febre Los Hermanos e todos os seus seguidores, o perfil das bandas que iam surgindo em São Luís, a partir de 2009, foi mudando. O rock mais voltado ao Punk e ao Nu Metal cedeu espaço para bandas de estilo blasé, garotos barbudos e camisas xadrez, ao mesmo tempo em que diversas outras influências podiam ser sentidas.

Nesse cenário, despontam Pedra Polida (de Pedro Venâncio, Eduardo Monteiro e André Grolli), Diamante Gold (de Emilio Sagaz), Garibaldo e o Resto do Mundo (de Paulo Henrique Moraes), Dicore e a Nova Bossa, que se tornou ícone do período, pela presença de Phill Veras como vocalista principal.

A Nova Bossa esteve em atividade por apenas alguns meses, o suficiente para revelar o talento de Phill e dos demais integrantes (Marcos Lamy, Hermes e André Grolli, todos com projetos solo ou com outras bandas a partir de então).

Nova Bossa

Em pouco tempo, configurou-se um movimento em que diversos músicos tocavam em várias bandas ao mesmo tempo, e nasceu um cenário efervescente que logo foi batizado de “nova cena”. Representam esse momento: Stalingrado (que revelou o competente guitarrista Ruan Cruz, criador de outros projetos como a Orr e a Ária 53), Pedeginja, Grillos Elétricos (praticamente a mesma Pedra Polida, só que com Grolli cantando) e Mandarla (de onde surgiu o compositor Tiago Máci).

Fazer som apenas autoral era a palavra de ordem, e o público respondeu positivamente. Para isso, foi decisiva a criação de estúdios afinados com a proposta das bandas, com destaque para o Casa Loca, de Adnon Soares, e o Base 17, de Felipe Hyily, que também tocava na Royal Dogs.

Os anos de 2012 e 2013 foram especialmente marcantes para os artistas da “nova cena” e foram muito celebrados por críticos importantes como Bruno Azevedo, Nivandro Vale (estes também músicos, como já citados), Reuben da Cunha e Celso Borges pela capacidade de aglutinar um público majoritariamente jovem na valorização da música local, feita por bandas igualmente jovens. 

Alê Muniz e Luciana Simões: idealizadores do Projeto BR-135

O projeto BR-135, criado em 2013 por Alê Muniz e Luciana Simões, contribuiu para impulsionar a “nova cena” desde a primeira edição, mas as próprias bandas também se organizaram e o principal fruto foram as três edições do Festival Limonada (em dezembro de 2013, e janeiro e outubro de 2014), que tinha como principal organizador o professor do Curso de Direito José Caldas Góis Júnior, pai da vocalista Jéssica Góis, da Pedeginja.

A popularidade de Phill Veras alçou voos. O compositor passou a viver em São Paulo, onde conquistou sucesso junto ao público alternativo, e uma avassaladora votação na Internet o colocou no Palco Sunset do Rock In Rio 2013, junto com sua banda formada então apenas por músicos maranhenses, como Memel Nogueira, Dney Justino, Marlon Silva e André Grolli, sem dúvida um momento histórico para a música do Maranhão.

Mas o rock mais visceral continuou trabalhando e várias bandas despontaram, algumas “adotadas” pela “nova cena”, com quem eventualmente dividiam os palcos, como Megazines (de Ronaldo Lisboa e Manel Maia), Vinil do Avesso (de Cyro Lupion), Velttenz (do mesmo Paulo Henrique Moraes, da Garibaldo), Gallo Azhuu (que era Pataugaza, de Patrick Abreu), Twelve Street e Boys Bad News (dos irmãos Domingos Tiago e Sandoval Filho, o Bimbo), e outras com caminhos diferentes, fazendo shows e desenvolvendo projetos à parte, como a Chaparral, que lançou o bom “Fim do Silêncio” em 2011, a Farol Vermelho, do talentoso guitarrista Rodrigo Smith, a Rádio-X (que se tornaria Altas Doses), a Marenostrum, a Baré de Casco (com seu estilo brega-rock, primeiro com Jhoie Araújo nos vocais, depois com Thierry Castelli) e a remanescente Mr. Simple, cuja canção “Hipnótica” foi parar na trilha sonora do filme “Muleque Té Doido”.

Um raro momento de encontro se deu no aniversário de 400 anos de São Luís, em 2012, quando bandas da “nova cena” e bandas “sem-cena” tocaram juntas em um festival aberto ao público no Beco dos Catraeiros (Praia Grande).

2013 testemunhou o renascimento artístico de Marcos Magah, o fundador da Amnésia, em 1987, que trocou o heavy metal por um pop-rock popular, de influências diversas. 

Marcos Magah

Nesta época, também houve uma febre de blues na cidade. Diversos grupos foram sendo montados ou reativados, com destaque para a Tequila Blues, a Blues de Quinta (de Daniel Lobo), a MPBlues (de Lusmar Cardoso e Rodrigo Castelo Branco) e a Saint Louis Rock & Blues Band, voltando a movimentar o estilo que teve seus momentos áureos cerca de dez anos antes, com os projetos de Fernando Japona e Dário Ribeiro. O fotógrafo Taciano Brito chegou a organizar alguns pequenos festivais, antes de o cantor e compositor Tutuca tomar para si a responsabilidade de fazer shows maiores, inclusive com atrações internacionais, em Barreirinhas e São José de Ribamar.

Apostando numa pegada vintage, com elementos do heavy metal e do hardcore, destacam-se a Red Beer Club (de Victor Bossal) e a Púrpura Ink (de Márcio Glam e Eraldo Júnior). Nesse segmento, porém, a Fúria Louca (do vocalista Henrique) diferencia-se pelo ainda maior profissionalismo no visual e esmero na qualidade técnica das gravações e execuções ao vivo, situação semelhante à da Jack Devil (banda de thrash metal do ex-Marthiria André Nadler), cujo investimento e trabalho a levaram para shows pela América do Sul e datas agendadas para os Estados Unidos e Europa. Essas duas bandas tocam mais fora do Maranhão do que aqui e são exemplos de que, nos últimos tempos, a visibilidade das bandas locais está ultrapassando as fronteiras, finalmente.


A bola da vez nesse sentido é a Soulvenir, um projeto pop-eletrônico capitaneado pelo baterista Wilson Moreira e que tem nos vocais Adnon Soares, além de Domingos Tiago, Bimbo e Marlon Silva. A banda lançou “Galaxy Species” em 2014 e em 2016 foi escolhida para representar o Brasil no NOS Alive, um importante festival de música independente em Portugal, onde se apresentou no mês de julho e ainda ganhou um contrato com a Sony.

Soulvenir - Marlon (bx), Bimbo (bt), Thiago (g) e Adnon (v\g)

A ascensão da Soulvenir foi o único alento de 2016 para o pop-rock local. O ano mostrou uma arrefecida no cenário pop-rock, com poucos lançamentos e espaços para shows. As novidades mais recentes em termos de gravações foram Carta Magna, Telúricos e Púrpura Fogo, e cantores como Fábio Allex e Israel Costa.

O último grande festival de rock em São Luís foi organizado por Marcony Almeida, em maio de 2015: o 24 Horas de Rock, que ocupou dois dias da Praça Maria Aragão, parte deles sob chuva, com mais de 30 atrações.

domingo, 15 de janeiro de 2017

Parte 5 - Lembranças do pop-rock de São Luís do final dos anos 80 ao começo dos anos 2000


Por Paulo Pellegrini – jornalista e músico


Na década de 80, era possível ouvir pop-rock em São Luís nas festas animadas por grandes bandas de baile, como O Peso e Os Fantoches, que, no meio do vasto repertório de inúmeros estilos musicais, sempre tocavam músicas de novela, sucessos internacionais e um ou outro rock nacional.

Pelo menos uma banda despontou até a primeira metade da década: a Morcego Vermelho, que viraria a Pirâmide, cuja canção autoral “Política” ficou no imaginário de muitos roqueiros. A banda tinha entre os integrantes Maurício Éverton, que montaria depois o Estúdio e Produtora Metanóia, no Edifício Caiçara; e Gil Estrela.


Alexander de Carvalho (Daphne) e Maurício Éverton (Morcego Vermelho\Pirâmide), em 1996



Carlos Pança e Pedro Cordeiro lembram também das bandas Camisa de Força e Filhos da Revolução.

Pança: “Camisa de Força... talvez a primeira banda de pop-rock que emplacou duas músicas que rodaram intensamente nas rádios FM maranhenses durante pelo menos uns dois meses – incluindo aqui a famigerada Cidade FM. Uma dessas músicas era a famosa “Cabaço”, que, por sinal, era uma letra de Joacy James que os caras viram e adotaram. (...) Nela tocaram caras como Maurício Alicate, que logo depois, junto com Eduardo (que era o batera da banda) participou da primeira formação da banda Fome”.

Pedro Cordeiro: “Nessa vertente havia também Camisa de Força e Filhos da Revolução (que só vi uma vez). Também Cabelo de Alma”.


O antológico show de Lobão e dos Titãs no Ginásio Champagnat, no Colégio Marista, em 1986, aglutinou milhares de roqueiros (fala-se em 8 mil pessoas!) e serviu como inspiração para que o palco abrigasse pelo menos uma apresentação dos Aranhas Boys, uma banda satírica de professores, liderada pelo professor Lobão, de Biologia, futuro sócio do cursinho Aprovação.

O Marista também foi a origem da Digital 4, cujo momento glorioso foi o show no Terreiro da Cidade (local que abrigava nas décadas anteriores um estádio de futebol e que hoje é a Igreja Universal do Reino de Deus, no Diamante), em que Jayr Torres levantou o público com o solo clássico de Sultans of Swing, sob o olhar embevecido do vocalista Glaydson Penha, o atual cantor Glad.

Glad relembra:

“O rock no Maranhão nos anos 80! Me orgulho de fazer parte dessa história com a banda Digital 4 com primeira formação: Eu, Leandro Brunno (Leandro Silveira), Ibrahim Assub Júnior e Alex Carneiro. Segunda formação: eu, Jayr Torres, Marcelo (baterista) e Alex Carneiro”.


Banda Digital 4 - Glad, Alex Carneiro, Leandro Silveira, Ibrahim Assub (1988)



Em 1988, Alexander de Carvalho e os irmãos Paulo e Cesar Pellegrini fundaram a Pop Brasil, que logo mudou de nome para Daphne. O primeiro show da Daphne foi na Boate Apocalipse do Hotel Vila Rica, em 1990.

Também em 1990, Adriano Corrêa (guitarra) e Eldro César (bateria) fundaram a Alcmena. Podemos atribuir à Alcmena o mérito de abrir os bares de São Luís para shows regulares de pop-rock. A banda fez temporadas marcantes no La Rotisserie (Av. Castelo Branco) e no segundo piso do Monumental Shopping, sempre para grandes públicos.


Daphne e Alcmena: Foto promocional das duas bandas para show no Teatro Viriato Correa, em 1997. Tirada no Estúdio ABBA Sound. Da esq. para a dir.: Otávio Parga, Paulo Pellegrini, Reuber Cunha, Nuna Gomes, Alexander de Carvalho, Adriano Corrêa, João Filho e Miguel Mussalem


Em 1991, quatro irmãos de São José de Ribamar procuraram a Daphne para organizar shows de projetos. Era a Paul Time, cujo nome homenageava Paulo, um quinto irmão da família precocemente falecido. Outras bandas de pop-rock que despontavam à época eram a Face Oculta, a Estado Nítido (do vocalista Valério Valente), a Palavra de Ordem e a Legião Cover.

A Legião Cover é a única das bandas de pop-rock do início dos anos 90 que sempre esteve em atividade até os dias atuais. Naquele período, a formação mais conhecida era Zuilton Guimarães (voz), Benone Carvalho (baixo), Jean Charles (guitarra) e Aziz (bateria).

A Palavra de Ordem tinha como vocalista o estudante de Comunicação Cassiano Viana, além de Ronaldo (guitarra) e Carlão (bateria). O tecladista da Daphne Paulo Pellegrini participou da banda por alguns meses em 1992.

Nunca é demais lembrar das três edições do São Luís Rock Show, em 1990, 1991 e 1992, produzidas por Jorge Capadócia, possivelmente até hoje o maior evento de rock, para bandas locais, já feito na capital maranhense. Somando as três oportunidades, mais de 30 bandas participaram, de todos os tipos e vertentes.

Entre as atrações, um cantor e compositor que costumava se apresentar na Galeria Éden, na Rua do Egito, alternando canções da MPB com um repertório autoral que já se mostrava interessante. No São Luís Rock Festival, o artista “provocou” o público: “vocês querem ouvir uma lambada?”.

Atônitos, os espectadores ficaram apreensivos. E o cantor começou realmente uma lambada, mas que durou cerca de dez segundos, encerrada por um definitivo “Acabou!”.
Seu nome? Zeca Baleiro.

Filhos da Revolução, Whydia, Daphne, Ácido, Fome, Lúgubre, Ânsia de Vômito, Amnésia, Nirvana (totalmente por acaso homônima da de Seattle), Ruminando Cogumelos, Loucura Elétrica... Algumas das bandas que tocaram nas diversas edições do São Luís Rock Show.

Sino César, um dos fundadores da Loucura Elétrica, lembra:

“E a Ruminando Cogumelos, de Athos? No primeiro São Luís Rock Show, eles e nós fomos escolhidos ‘bandas revelação’. Cabe uma curiosidade aí: nós (Loucura) tocamos no último dia, e a ‘banda revelação’ já tinha sido escolhida (Ruminando). Depois que terminamos o show, Jorge deu o anúncio que seriam duas ‘bandas revelação’: a Ruminando Cogumelos e Loucura Elétrica. Tanto que tocamos de novo no final do festival, depois da Ruminando”.

Sobre a Loucura Elétrica, do vocalista Fernando e do tecladista Jean Feres, especialista em sons progressivos ao estilo Led Zeppelin e Deep Purple.

Sino César revela:

“...A formação original da Loucura Elétrica: eu (que batizei a banda), Avilásio Maranhão, Márcio Major, Ricardo Gordo e Ricardo Braga. Depois vieram Fernando, Jean, Tico, entre outros”.

Por volta de 1992, o guitarrista da banda O Peso, Pepê Júnior, lançou um LP solo, que, apesar de algumas misturas, pode ser enquadrado como um disco de pop-rock, na pegada Lulu Santos e Pepeu Gomes. Uma das faixas, “Fofocadinho”, era uma provocação ao guitarrista Edinho Bastos.

Apesar de ser uma banda de hard-rock, a Whydia mantinha uma proximidade com os grupos de pop-rock. Os ensaios da Whydia e da Daphne aconteciam em casas vizinhas e sempre era possível ver as duas bandas realizando jam sessions.

Diversos músicos tocaram na Whydia, além do vocalista Elvis: Cutrim Stones, Maurício, Nelsinho, Carlão, Jorginho Ribeiro e Tony Ilha, este já falecido.

Em termos de gravações, é possível lembrar dos promos “Acreditar”, da Daphne, e “Vice-Versa”, da Estado Nítido, gravados em 1991 e que tocaram na Rádio Mirante FM por algum tempo.

Entre 1994 e 1996, a Daphne gravou no Estúdio Sonato as faixas que comporiam o CD “Semblantes”, o primeiro CD de rock do Maranhão. Em 1997, a Paul Time lançaria seu primeiro CD, de título homônimo. A faixa “Palavras Erradas” virou vídeo-clip que chegou a ser exibido na MTV Brasil.

Ingresso do show de lançamento do CD Semblantes, o primeiro CD de uma banda de rock maranhense, em 29081996, no Teatro Arthur Azevedo

1996 registrou um grande evento no Ginásio Costa Rodrigues, promovido pela Rádio Mirante FM: o Ilha Rock Festival.

Diferentemente do que acontece hoje, em que as bandas estão praticamente confinadas a poucos espaços da Praia Grande e da Lagoa da Jansen, o pop-rock maranhense dos anos 90 circulava por diversos bairros de São Luís. Era comum ter eventos no Clubão da Cohab, nas Associações dos Moradores do Cohatrac e do Maiobão, em festivais na Praia do Calhau, no Centro de Convenções da UEMA e nas boates Gênesis e Tucanu’s.

Já o bairro do São Francisco possuía pelo menos três espaços marcantes de shows. O mais famoso foi o Clube do Bento, mais apropriado para o rock pesado, mas também houve shows importantes, de várias vertentes do rock, no Equator (Av, Ana Jansen) e no andar de cima da loja Maison Suisse, atual Extrafarma, em frente ao Hiper Bom Preço da Avenida Colares Moreira. O restaurante Peixe na Telha, na Ponta do Farol, foi mais um local que abrigou diversos shows de rock na década de 90.


Mais duas bandas dos anos 90 merecem ser lembradas: a Maska Potó, de Paulo Renato, Alexandre ‘Repolho’, Marfilho, Lúzio e Marcelo Rebelo. O grupo retornou às atividades com outra formação e outro nome, Zappen, mantendo o vocalista, Paulo Renato.


Agradecendo aos comentários e acréscimos, reitero que esse texto foi feito totalmente baseado em memórias pessoais, que são, certamente, bem falhas.


Tanto que eu mesmo vou acrescentar uma banda importante que está faltando, que me veio à mente um dia desses: Los Boddah.

Um projeto capitaneado por Kit Cavalcante (Kit Boddah), que começou fazendo covers do Nirvana, por volta de 1992 e depois investiu em autorais também. Hoje, Kit tem um projeto de reggae, o Juba de Leão, além de ter sido uma figura importante como promotor de discos, em lojas especializadas.


Segundo ciclo 


Simbolicamente, a morte de Renato Russo e o advento de bandas como Chico Science e Nação Zumbi e O Rappa trouxeram como efeito para o pop-rock de São Luís o surgimento de bandas com som mais híbrido. Passou a ser comum que os eventos de rock abrigassem bandas de reggae, mangue beat, hip-hop e fusões em geral.

Uma banda que simbolizava bem essa época foi a Com Fusão Pop, apadrinhada pelo radialista Gilberto Mineiro, que infelizmente durou pouco tempo.

Esse espírito motivou produtores e jornalistas culturais como Eduardo Júlio e Alex Palhano a desafiarem bandas para criar versões diferentes de músicas da MPB no Festival do Canto do Tonico, na Praia Grande, em 1999. Entre as bandas concorrentes, estavam a Samsara, que venceu, a Areias e a T.A. Calibre 1.

Todas essas bandas fizeram despontar músicos que fariam carreiras importantes nos anos seguintes, como Ramúsyo Brasil, Costelo, Ana Areias, Miguel Ahid, Bruno Barata e Eduardo Patrício.

O bar Porto Livre, do empresário Lula Fylho, foi um espaço aglutinador de bandas e DJ’s entre 1997 e 1999, e testemunhou o surgimento da General Purpose, cuja célula básica (o baterista Franklin Nazarus, o guitarrista Érico Monk e o baixista Jorge Ribeiro) se transformaria tempos depois na Nimbus Paradisia, sob os vocais de Erin Cy. Outra banda que apareceu no final dos anos 90 foi a Guinevere.

Com um som mais próximo da MPB, podemos destacar os projetos Mandorová, de Ramúsyo, e Boca de Lobo, de Assis Medeiros, Ana Areias e Hamilton Oliveira.

Mas o grande fenômeno do início dos anos 2000 foi o trio Catarina Mina, cujo nome original era Mr. Claus. O projeto teve como embrião os festivais de música popular promovidos pelo bar Zanzibar, na Litorânea, quando as canções de compositores como Djalma Lúcio e Fábio Abreu começaram a ser conhecidas.

A Catarina Mina em si acabou se restringindo a Djalma (voz e violão), Bruno Azevedo (baixo) e Eduardo Patrício (bateria) e arrebatou fãs por toda a cidade, apostando em um som autoral e releituras que iam de Valdick Soriano a The Smiths.

O EP de quatro músicas da Catarina Mina, de 2002, transformou em sucesso as canções “Traduzindo” e “Haicai”. Neste mesmo período, saiu o segundo CD da Paul Time, chamado “Espermatozóide” e, um ano antes, o segundo da Daphne, “Por que não?”. 



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